sexta-feira, 15 de junho de 2007

Pentágono pensou em utilizar a 'bomba gay' contra os soldados inimigos

O título da postagem é uma manchete do "UOL Ciência e Saúde" de 15/06/2007. Assim diz o primeiro parágrafo:

"Uma 'bomba gay', que transforma os soldados inimigos em homossexuais que preferem fazer amor a fazer a guerra, foi uma idéia destrambelhada proposta nos anos 90 ao Pentágono para resolver seus conflitos bélicos."

Muito bom o uso de "preferem fazer amor a fazer a guerra", neste primeiro parágrafo, que está em relação intertextual com o slogan dos levantes (principalmente os estudantis, principalmente no oeste-europeu e nos EUA): "Façamos amor, não façamos a guerra". A palavra "destrambelhada" dá idéia de que o projeto não deu, nem poderia dar (ao ver do autor), certo. Mostra que o jornalista (ou o redator, ou o portal de notícias, ou o locutor, ou o enunciador, ou a posição discursiva; discuti um pouco dessas coisas em outros textos, neste blog) não é invisível; revela-se aqui em sua espessura. Interessante que o especificador (artigo) "a" na manchete pode indicar que a bomba exista ou tenha existido (alguns diriam que há uma incoerência textual, entre a manchete e o corpo da matéria).

Ao ler a matéria, vemos que não há nada no projeto da bomba que queira estimular a homossexualidade. Esse possível sentido é permitido (ou, até, dado) pela manchete e estaria em relação com a posição que reduz a homossexualidade a algo biológico: quem assim ler, poderia pensar que a bomba pretendia estimular os aspectos biológicos da homossexualidade. Mas, o projeto pretendia aumentar a libido dos soldados inimigos; e como pressupomos / sabemos que entre os soldados só havia (há) homens...

Existe um outro pressuposto (mais um daqueles perigosos) que quer passar que homossexual é menos combativo, pois guerrear seria "coisa de macho". O velho discurso homofóbico, e até machista. Poderíamos dizer que a matéria só ganhou o destaque que ganhou (capa do site UOL naquele dia) porque os editores (ou quem quer que mande lá) sabem que é uma matéria "curiosa", que deve chamar a atenção; isso porque sabem que o discurso homofóbico, inclusive feito de piadas homofóbicas (se neste blog falamos de humor), é muito presente. A própria matéria diz: "Esta história de 'bomba gay' virou prato cheio para piadas e comentários jocosos dos blogueiros".

Algumas piadas vão na direção oposta à pejoração, como a matéria também nos mostra: "'Se tínhamos uma bomba gay, por que não as usamos nas montanhas do Afeganistão?', questiona o republicoft.com, que se identifica como um negro e homossexual que vive em Washington". por não termos o contexto, não sabemos se isso foi colocado em termos de piada (imagino que sim); mesmo se foi, não é por ser piada que vai perder a força ou a validade da crítica (às vezes, a piada dá mais força a uma crítica, sabemos). Esta piada é complexa e vai no sentido que apontamos no começo (a bomba estimulando a homossexualidade e não a libido em geral), pois pode querer: 1) defender o direito de ser homossexual; 2) sugerir que a homossexualidade é algo culturalmente reprimido e que a bomba poderia ajudar a romper as barreiras; 3) criticar o governo Bush ou os governos imperialistas por muitas mortes no Afeganistão; 4) pressupor (evocando uma memória discursiva) que no meio militar (talvez sobretudo o estadunidense) tudo o que de pior que se diz que não existe, existe.

A reportagem em questão tem o mérito de trazer várias posições.

Nenhum comentário:

Postar um comentário